terça-feira, janeiro 20

Os níveis da escrita - Contribuição de Emília Ferreiro

Nível pré-silábico: Nesta fase a criança não estabelece relação entre fala e escrita. Não faz correspondência entre a grafia e os sons. Usa diferentes formas de representação (garatujas, desenhos, números) para escrever. Há uma grande variação de caracteres. Coincide com um período primitivo do realismo nominal.

Nível silábico: Neste nível a criança relaciona grafia e sons, de maneira que representa cada sílaba (som) por meio de uma letra. No nível silábico primitivo, ela representa a sílaba com qualquer letra, é aleatório. Quando alcança o nível silábico evoluído, ela passa a representar a sílaba com a vogal ou a consoante que aparece na sílaba. Isso ocorre porque a criança passa a representar partes sonoras estáveis das sílabas.

Nível silábico-alfabético: Nesta fase a criança evolui para uma representação mais completa dos sons das palavras. É comum neste nível que na representação gráfica faltem algumas letras, o que leva alguns profissionais a confundirem nível de evolução da escrita com dificuldade de aprendizagem. São coisas distintas: a primeira é uma fase normal do desenvolvimento da escrita, a segunda pode estar relacionada a algum distúrbio como a dislexia, e tem causa neural e genética.

Nível alfabético: Neste nível a criança faz a correspondência da grafia com fonemas (unidades sonoras da língua) que favorece a diferenciação das palavras pelos sons (fonemas) e sinais gráficos da língua (grafemas). Portanto, ela é capaz de fazer a correspondência entre elementos sonoros e a grafia. Nesta fase a criança ainda não é ortográfica, ou seja, ela ainda não escreve conforme os padrões da norma culta, seguindo as regras ortográficas. A ortografia é adquirida com a prática da leitura e escrita.

terça-feira, janeiro 13

A utilização de histórias como recurso para o trabalho terapêutico com crianças

De acordo com Vasconcelos (2005), um dos meios de transmissão da cultura de um povo é a literatura. Por meio das histórias transmitem-se valores, crenças, regras e apresentam-se diversos padrões de comportamento. A leitura de histórias é uma ferramenta importante no contexto clínico quando permite que a criança adquira e fortaleça comportamentos de observação, reflexão, crítica, sensibilidade às necessidades do outro e de expressão de sentimentos e pensamentos.
Além de permitir que as crianças informem sobre seus sentimentos e descrevam comportamentos e eventos importantes, as histórias quando são usadas no contexto terapêutico, permitem que as crianças aprendam respostas alternativas aos seus comportamentos disfuncionais ou indesejáveis. Ler, ouvir e até interpretar uma história representam uma oportunidade de aprender a se comportar adequadamente frente a determinados estímulos. Por meio da história, o terapeuta conduz a criança na análise do comportamento dos personagens, na avaliação das contingências que o determinam e, a partir daí, ajuda a criança a pensar em alternativas comportamentais para os personagens. Esse treino, com o uso da fantasia e da brincadeira, leva a criança a encontrar alternativas de ação, inicialmente para os personagens de suas brincadeiras, que depois podem ser generalizadas para as situações de sua vida (Guerrelhas, Bueno & Silvares, 2000).
Falar do comportamento dos personagens de uma história é uma aproximação gradual para depois falar de si mesmo (Regra, 2000) e por isso é um instrumento útil na psicoterapia infantil. Para essa autora, quando a criança é levada a identificar os padrões de comportamento dos personagens da história que têm relação com os seus padrões de comportamento e de seus familiares, estabelece-se uma ponte entre a fantasia e a realidade e a criança é conduzida a falar de si mesmo e de suas relações, diante da audiência não punitiva do terapeuta.
Em outras palavras, a utilização de histórias permite um intercâmbio entre fantasia e realidade que contribui para a formação de conceitos sobre as relações sociais e posterior mudança de comportamento (Vasconcelos, 2005). Com o uso da história, é possível refletir sobre contingências o que a torna um instrumento de aprendizagem da análise funcional do comportamento. Por meio da análise das contingências apresentadas na história, é possível identificar os comportamentos dos personagens, seus antecedentes e conseqüentes, mostrando para criança a relação entre esses eventos. A partir daí, a criança pode adquirir competência para sugerir mudanças nos antecedentes, no comportamento dos personagens, e nas conseqüências, brincando de criar novas histórias. Desse modo, o repertório de comportamentos pode ser aumentado, e comportamentos mais adaptativos podem ser adquiridos, emitidos e reforçados, o que faz com que sua freqüência aumente.
Para utilizar as histórias de modo eficaz em psicoterapia infantil, é necessário conhecê-las, saber quais trechos são importantes para lidar com uma queixa particular e até mesmo saber adaptar as histórias para destacar pontos que contribuam para o desenvolvimento das crianças (Vasconcelos, 2005).